Cientistas brasileiros e norte-americanos desenvolveram óculos graduados equipados com um biossensor que pode medir os níveis de glicose no sangue através das lágrimas de uma pessoa. Eles podem levar a testes menos invasivos para diabéticos.
Os níveis de glicose precisam ser verificados com freqüência para monitorar o diabetes. É uma doença que agora afeta 380 milhões em todo o mundo. Hoje, os biossensores podem resolver o problema.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)o diabetes aumentou assustadoramente nas últimas décadas. O maior aumento ocorre nos países de baixa e média renda e pode afetar 580 milhões de pessoas até 2035.
Muitas pessoas usam um medidor de glicose no sangue portátil para monitorar seu diabetes observando seus níveis de glicose no sangue. Eles picam os dedos, obtêm uma amostra de sangue e a submetem a um dispositivo para análise. O processo, que pode ser repetido várias vezes ao dia, pode ser doloroso e acarreta risco de infecção. Os novos métodos (diferentes e encorajadores) ainda não foram lançados.
Os biossensores desenvolvidos pela equipe EUA-Brasil são capazes de identificar uma enzima chamada glicose oxidase (amplamente usada para detectar glicose livre nos fluidos corporais) das lágrimas, eliminando a necessidade de picar os dedos. Mas isso não é tudo: eles também podem medir os níveis de açúcar no sangue, vitaminas e álcool.
Os biossensores são capazes de medir reações biológicas ou químicas e gerar um sinal proporcional à concentração de uma substância específica. Eles estão cada vez mais sendo projetados e usados para acelerar os resultados dos testes de laboratório, monitorar as condições de saúde, diagnosticar e prevenir doenças.
Monitorar diabetes através de lágrimas
O projeto nasceu de pesquisadores de Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, juntamente com cientistas do Departamento de Nanoengenharia da Universidade da Califórnia, San Diego. As equipes imobilizaram a enzima em um eletrodo acoplado a um circuito com fluxo constante de elétrons, depois instalaram o dispositivo no nariz dos óculos. O usuário pode produzir lágrimas sob comando (se tiver boas habilidades de atuação... brincadeira) ou expondo os olhos a uma substância que estimula a glândula lacrimal.
Quando as lágrimas entram em contato com a glicose oxidase, elas alteram o fluxo de elétrons, produzindo um sinal que é gravado e processado pelo dispositivo instalado na barra dos óculos, que envia os resultados em tempo real para um computador ou smartphone.
Laís Canniatti Brazaca, médico e pesquisador do Instituto de Química de São Carlos e um dos autores do estudo publicado na revista Biosensors and Bioelectronics, Ele declara: “As concentrações de vários metabólitos nas lágrimas refletem os níveis sanguíneos concomitantes, tornando-as um terreno fértil para biossensores que podem monitorar o diabetes de forma não invasiva e também observar outros parâmetros fisiológicos”.
Além de ser indolor, o biossensor pode "reduzir o risco de infecção em pessoas que usam glicosômetros com frequência", acrescentou Brazaca.
O cientista disse que o dispositivo também pode medir os níveis de vitaminas e álcool no sangue "simplesmente trocando o eletrodo posicionado nas almofadas do nariz dos óculos".
Uma única gota de sangue
Usando a mesma abordagem, uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo desenvolveu biossensores capazes de detectar e quantificar proteínas de biomarcadores para o diagnóstico clínico de doenças negligenciadas e doenças degenerativas crônicas, como certos tipos de câncer.
para Paulo Roberto Bueno, engenheiro de materiais do Instituto de Química da Universidade Estadual de São Paulo, "A ideia é fazer o teste usando apenas uma gota de sangue no aparelho.". Um pouco como o sonho (infelizmente acabou sendo) de Elizabeth Holmes e seus Theranos.
Essa abordagem simples pode melhorar o diagnóstico de doenças por profissionais médicos ou pelos próprios pacientes em casa. Com a ajuda de um software de inteligência artificial, eles poderiam manter seus sinais vitais sob controle.
Os pesquisadores planejam comercializar o novo dispositivo dentro de três anos. No caso de biossensores montados em óculos para monitorar o diabetes, ainda não é esperado que o dispositivo chegue ao mercado.
Biossensores: leva tempo, a menos que ...
Cleverton Pirich, bioquímico da Universidade Federal do Paraná no Brasil, disse que os benefícios dos biossensores para melhorar a qualidade de vida e a saúde humana são conhecidos há algum tempo. No entanto, ainda há um caminho a percorrer para produzi-los e comercializá-los em larga escala, pelo menos em países como o Brasil.