O advento da pandemia apenas acelerou (mesmo que em vários anos) um processo que parecia imparável e que tinha uma conclusão precipitada. Os serviços de streaming, antigos e novos, já mataram o cinema tal como o conhecemos. E este é um processo irreversível, salvo mudanças sensacionais que, francamente, parecem hoje completamente irracionais.
Essa era uma opinião comum que se espalhava nos círculos de Hollywood pouco antes de Covid: gigantes como Netflix e Amazon Prime Video começaram as primeiras produções importantes, também indo a prêmios.
Foi só agora, porém, que o “oráculo do cinema” deu a sua palavra.
Estou falando de um cara chamado Barry Diller. Você conhece ele? Ele não é um tolo. Com 80 anos e muito lúcido, ele come cinema enquanto mascamos chiclete. Hoje ele trabalhou na Fox (por 30 anos, tendo dirigido por 8) e é o CEO da IAC, uma gigante que possui coisas como Expedia e Tripadvisor, entre outras.10 anos no ABC, onde inventou o primeiro longa-metragem para a TV (90 minutos por mês). 10 anos na Paramount, produzindo coisas como “Grease”, “Saturday Night Fever”, “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, “Beverly Hills Cop”. Deveria ser suficiente?
Bem, Barry Diller declarou esta semana que a indústria cinematográfica como a conhecemos não está morrendo. Ela já está morta. Aqui estou.
Esses serviços de streaming criaram algo que chamam de ‘filmes’. Eles não são filmes. Eles são um processo algorítmico estranho que cria coisas que duram cerca de 100 minutos. O mundo do cinema como era antes acabou e nunca mais voltará.
Barry Diller em entrevista à mídia na Allen & Company Sun Valley Conference.
São palavras de aço. Palavras da tumba.
A essência do discurso de Diller é que serviços de streaming como o Amazon Prime não foram criados para vender filmes às pessoas. Eles são criados para vender às pessoas… elas mesmas assinaturas de streaming. E mais coisas de plataformas de comércio eletrônico como a Amazon. A Amazon entendeu isso antes, mas teve dificuldade para estruturar uma oferta. A Netflix criou uma excelente oferta, mas ele foi estruturado apenas hoje para vender outra coisa.
As empresas de mídia gastam bilhões todos os anos em conteúdo para criar programas e filmes exclusivos que atraem os usuários a assinar seus serviços. A Netflix (que para Diller já venceu a guerra e será tão inacessível quanto a Amazon para o comércio) revelou no último trimestre que planeja gastar mais de US$ 17 bilhões em conteúdo este ano.
Não há guerra sem exército
São números monstruosos, que também levam outras empresas a se unirem para competir. Recentemente, a AT&T anunciou um acordo para fundir sua unidade de conteúdo WarnerMedia com Discovery e formar um novo gigante da mídia. A nova empresa de mídia pode valer bem mais de US$ 100 bilhões. Seus executivos disseram que as duas empresas já gastam US$ 20 bilhões por ano em conteúdo, incluindo programação para suas redes de TV.