Quando se trata de energias renováveis, as superestrelas são sempre a energia solar e eólica: sem surpresa, dado o sucesso de ambos os setores. A energia solar e eólica, no entanto, têm suas desvantagens. Eles ainda não são contínuos, confiáveis e universalmente praticáveis. O armazenamento e o transporte de energia são cruciais: houve progresso em ambas as frentes, mas as baterias continuam caras para produzir, manter e substituir.
E se houvesse um suprimento quase ilimitado de energia no mundo? E se fosse “suficiente” desenvolver tecnologias que utilizem essa fonte de energia? Se isso bastasse, em uma palavra: perfuração?
A resposta é perfurar
A resposta a essas perguntas está e sempre esteve diretamente sob nossos pés: o núcleo do nosso planeta é mais quente que o sol (mesmo que esteja esfriando um pouco). Basta perfurar fundo o suficiente para liberar um pouco de seu calor.
Pelo menos essa é a intenção que ele tem Energia Quais: a startup nascida no MIT em 2018 obteve recentemente US$ 40 milhões em novos financiamentos. Mas para realmente perfurar profundamente, primeiro você precisa de novas perfurações.
A ideia
Para vaporizar a rocha em vez de quebrá-la, é necessário substituir as pontas tradicionais por feixes de luz de ondas milimétricas. Estas brocas “sem contacto” podem penetrar até 20 km (12 milhas) na crosta terrestre, onde a rocha atinge temperaturas superiores a 350°C (700 graus Fahrenheit). A água seria puxada para dentro do buraco e convertida em vapor e depois em energia.
“Temos um problema de acesso neste momento”, diz ele Carlos Aráque, cofundador e CEO da Quaise. “Quando conseguirmos perfurar 10 a 20 quilómetros de profundidade teremos acesso a uma fonte praticamente infinita de energia.”
Parece promissor, mas a startup ainda precisa provar que sua tecnologia experimental funciona. Aliás, funciona? Vamos dar um pequeno passo para trás primeiro.
Energia geotérmica explicada ao meu cão
A energia geotérmica não recebe muita atenção porque depende de condições especiais. A Islândia, por exemplo, construiu a sua própria rede eléctrica quase 100% renovável usando energia geotérmica e hidrelétrica: é líder na Europa. Mas a Islândia é um caso raro: uma bela ilha composta por vulcões e geleiras, e quando o fogo e a água se encontram perto da superfície, você nem precisa perfurar.
Usinas geotérmicas convencionais usam vapor subindo através de rachaduras e fendas na rocha para aquecer estruturas e acionar turbinas que produzem eletricidade. Nada fácil e nada óbvio.
A nova geração de energia geotérmica
É por isso que a energia geotérmica pretende mais uma vez criar as condições adequadas, em vez de procurá-las noutro local. Os sistemas geotérmicos avançados (EGS) penetram nas rochas mais quentes com menos fissuras e fissuras naturais. Eles então fraturam a rocha usando fluidos de alta pressão (uma tecnologia emprestada da indústria de petróleo e gás conhecida como “fracking”). Eu disse fracking e já torci o nariz.
É claro que os apoiantes do EGS salientam que os fluidos utilizados para o EGS são mais seguros e representam um menor risco de poluição das águas subterrâneas. O mesmo se aplica aos riscos de indução de actividade sísmica, porque os sistemas EGS produziriam fracturas mais pequenas na rocha, utilizando uma pressão mais baixa do que o fracking, que recupera óleo e gás de xisto. Minhas dúvidas permanecem, no entanto.
O sistema Quaise está ainda mais à frente
O tipo de sistema geotérmico que Quaise propõe, diz a empresa, está a anos-luz de distância, mesmo do sistema geotérmico recém-gerado.
Perfurar em profundidades muito altas significa atingir a rocha em temperaturas mais altas. Tão alto que produz água "supercrítica". Um quarto estado além do estado sólido, líquido e gasoso, durante o qual a água contém de 4 a 10 vezes mais energia por unidade de massa, dobrando sua conversão em eletricidade.
Em resumo: você obteria mais energia e obteria mais eletricidade dessa energia. Mais importante ainda, pode ser feito em qualquer lugar do mundo.
Perfurar lá é uma façanha
Quanto mais você perfura, mais quente fica a rocha: uma vantagem que tem um preço. Com as tecnologias convencionais existe um ponto além do qual a perfuração não é mais possível. Simplificando, os componentes eletrônicos derretem e as brocas são literalmente arrancadas. Para substituir um nessas profundidades, pode levar uma semana para levantá-lo, duas horas para substituí-lo e mais uma semana para baixá-lo novamente.
A solução (não tão original ou nova) é a perfuração sem contato.
Paulo Woskov do MIT, cuja pesquisa fundamenta a abordagem de Quaise, levou 10 anos apenas para demonstrar a física envolvida nesta tecnologia. O sistema para perfurar sem tocar na rocha inclui um feixe de energia de ondas milimétricas, uma frequência eletromagnética no território das microondas gerada por um girotron na superfície. O feixe de micro-ondas é “disparado” no furo junto com um gás (nitrogênio, ar ou argônio) e vaporiza as camadas rochosas nas profundezas da Terra. Então o gás se liga à rocha vaporizada e a traz à superfície como uma nuvem de cinzas vulcânicas.
Os primeiros testes, resultado das bolsas recebidas, terão início em 2024.
Quaise começará a perfurar com este método em pouco menos de dois anos, aumentando gradualmente a profundidade. O único gargalo é essa técnica, afirma a empresa: todo o resto está pronto, inclusive as usinas.
De fato, as usinas atuais poderiam ser “adaptadas” perfurando nas proximidades e substituindo os combustíveis fósseis por energia geotérmica, com uma pegada ecológica de 100 a 1000 vezes menor.
Colocando desta forma, isso soaria como a verdadeira transição ecológica. Uma grande visão. Claro, ainda é cedo, mas merece muita atenção.
O 'motor geológico' da Terra ainda o possui há pelo menos um bilhão de anos. É uma fonte de energia disponível em qualquer lugar do globo.