Você certamente já deve ter ouvido falar sobre isso esta semana: uma equipe de cientistas literalmente “ressuscitou” aranhas mortas para fazê-las cumprir suas ordens. Em um novo campo chamado “necrobótica”, os pesquisadores converteram os cadáveres de aranhas-lobo em pinças capazes de manusear objetos. Tudo o que a equipe precisou fazer foi enfiar uma seringa nas costas de uma aranha morta e colá-la. Ao empurrar o fluido para dentro e para fora do cadáver, as pernas se abriam e fechavam, relataram pesquisadores em 25 de julho de Ciência Avançada.
A ideia surgiu de uma pergunta simples, explica Faye Yap, o jovem engenheiro mecânico da Rice University em Houston e primeiro autor do estudo. Por que as aranhas se enrolam quando morrem?
A resposta é simples: porque as aranhas são como deuses máquinas hidráulicas. Eles controlam a extensão das pernas forçando o sangue para dentro delas. Como uma aranha morta não tem mais essa pressão arterial, suas pernas se curvam.
“Achamos que era legal”, diz Yap. “Queríamos explorá-lo.”
Sua equipe primeiro tentou colocar aranhas-lobo mortas sob um calor suave, na esperança de que o calor úmido fizesse com que as aranhas se expandissem e empurrassem as pernas para fora. Não funcionou. Mas quando os investigadores injetaram o fluido diretamente no cadáver de uma aranha, descobriram que conseguiam controlar a sua aderência suficientemente bem para apanhar outras aranhas mortas e mover pequenos objetos, como fios de circuitos.
Somente após centenas de usos os necrobots começaram a desidratar e mostrar sinais de desgaste.
Um pouco assustador… Para que serve a necrobótica?
No futuro, os pesquisadores cobrirão as aranhas com um selante para evitar o declínio. Mas o próximo grande passo é verificar as pernas das aranhas individualmente, diz Yap, e no processo entender melhor como as aranhas funcionam. Nesse ponto, sua equipe (e a comunidade científica em geral) poderia usar essas novas noções para projetar melhor outros robôs.
“Seria muito, muito interessante”, diz ele Rashid Bashir, um bioengenheiro da Universidade de Illinois Urbana-Champaign que não esteve envolvido no novo estudo. O cadáver de uma aranha provavelmente teria problemas como robô, porque não teria um desempenho tão bom quanto os “robôs duros” e seu corpo se decomporia com o tempo. “Há muito a aprender com a biologia e a natureza”, diz Bashir,
E a ética? É certo reanimar cadáveres e usar seus corpos como robôs?
Apesar deste estudo sobre a “reanimação” de aranhas mortas, Yap não é um cientista louco e a necrobótica não é uma loucura. Ele se pergunta se é certo jogar Frankenstein, mesmo que apenas com aranhas. “Ninguém fala realmente sobre ética” quando se trata desse tipo de pesquisa, diz ele.
Os cientistas precisam compreender a moralidade deste tipo de bioengenharia antes que se tornem bons demais, concorda Bashir. A questão é, diz ele, “até onde podemos ir?”.