Pela primeira vez, uma equipe internacional de engenheiros e cientistas da computação desenvolveu uma tecnologia que combina detecção de radiofrequência com inteligência artificial para ler lábios e identificar seus movimentos.
Os aparelhos auditivos atuais ajudam as pessoas com perda auditiva amplificando todos os sons ao seu redor, o que é útil em diversas aplicações. Em ambientes ruidosos, no entanto, o amplo espectro de amplificação desses dispositivos pode dificultar o foco dos usuários em sons específicos. Por exemplo, uma conversa com uma determinada pessoa.
Uma possível solução para esse problema, conhecido como "efeito coquetel", é fazer aparelhos auditivos "inteligentes". Novos dispositivos que combinam amplificação de áudio convencional com um segundo dispositivo que coleta dados adicionais para melhor desempenho.

Edição de singularidade de leitura labial
Em novo artigo publicado hoje na revista Natureza das Comunicações (eu linko aqui), a equipe liderada pela Universidade de Glasgow mostra o uso de tecnologia de detecção de última geração para ler lábios. Seu sistema preserva a privacidade coletando apenas dados de radiofrequência, sem explorar vídeos (e, portanto, sem problemas de privacidade, pelo menos em imagens).
Para desenvolver o sistema, os pesquisadores pediram a voluntários do sexo masculino e feminino que repetissem as cinco vogais (A, E, I, O e U) primeiro sem máscara e depois usando máscara cirúrgica. Seus rostos foram escaneados tanto com a boca fechada quanto durante a pronúncia, usando sinais de radiofrequência de um sensor de radar dedicado e um transmissor wifi.
As 3.600 amostras de dados coletadas com as varreduras foram usadas para "treinar" algoritmos de aprendizado de máquina e aprendizado profundo para reconhecer movimentos característicos da boca e ler lábios, associando cada movimento a um som.

Resultado?
O sistema apresentou uma taxa de precisão 95% para lábios não mascarados e 83% para lábios mascarados. Impressionante.
O médico Qammer Abbasi da Universidade de Glasgow, principal autor do artigo, ilustra o trabalho realizado. "Cerca de 5% da população mundial, 430 milhões de pessoas, tem uma forma de deficiência auditiva. Os aparelhos auditivos fizeram a diferença para muitos deles. Novas tecnologias que coletam dados para melhorar a amplificação do som podem dar um passo decisivo.”
Em resumo: esta pesquisa mostra que sinais de radiofrequência e até sinais de Wi-Fi podem permitir que você leia os lábios mesmo quando coberto por uma máscara. Deixo para a imaginação de todos pensar nos usos "negativos" dessa tecnologia e focar apenas nos aspectos positivos.
Os futuros aparelhos auditivos multimodais vão quebrar qualquer diferença entre as pessoas, trazendo 5% da população com deficiência auditiva do mundo no mesmo "comprimento de onda" (deve ser dito) como todos os outros.