Há cinquenta anos, o mundo científico ficou chocado com a descoberta de Lucy, um australopiteco que viveu há 3,2 milhões de anos. Desde então, esta “mãe de todos nós” catalisou a imaginação dos cientistas e do público. Hoje, uma nova investigação está prestes a derrubar a nossa visão de Lucy e, com ela, a nossa compreensão dos nossos antepassados pré-históricos. E se disséssemos que Lucy, ao contrário do que sempre pensamos, pode ter sido completamente sem pelos?
A revolução de Lucy
Quando os paleontólogos descobriram Lucy em 1974, foi como encontrar uma peça que faltava no quebra-cabeça da evolução humana. Um número surpreendentemente completo de ossos em comparação com outras descobertas (cerca de 40% de um esqueleto completo) forneceu-nos informações valiosas sobre como os nossos antepassados se moviam e viviam. Mas havia um detalhe que parecia escapar à fossilização: a sua aparência externa.
Durante décadas, as reconstruções de Lucy a retrataram coberta por uma espessa pelagem avermelhada, semelhante à dos macacos modernos. Esta imagem tornou-se tão icónica que é quase tida como certa. Mas a ciência, como é da sua natureza, nunca para de se questionar e de procurar novas respostas.
Uma nova perspectiva sobre o australopiteco
Os últimos avanços na análise genética nos contam uma história completamente diferente. De acordo com esses estudos (que eu link para você aqui), nossos ancestrais diretos eles podem ter perdido a maior parte dos pelos do corpo entre 3 e 4 milhões de anos atrás. Este período coincide perfeitamente com a época em que Lucy viveu.
A descoberta muda a forma como imaginamos Lucy e também lança uma nova luz sobre toda a trajetória da evolução humana. A ideia de um australopiteco sem pelos desafia muitas de nossas suposições sobre por que e quando nossos ancestrais começaram a se parecer conosco.

O macaco nu dança
É o cabelo? Os cientistas propõem várias teorias:
- Termorregulação: a perda de pêlo pode ter ajudado os primeiros hominídeos a arrefecerem os seus corpos de forma mais eficaz nas savanas africanas.
- Desenvolvimento fisiológico atrasado: um corpo sem pelos pode ter sido uma adaptação relacionada ao longo período de desenvolvimento das crianças humanas.
- Atração sexual: a pele nua pode ter desempenhado um papel na seleção sexual.
- Proteção contra pragas: menos pêlo significa menos habitat para parasitas como pulgas e carrapatos.
O traje do australopiteco
Se Lucy realmente não tinha pelos, surge uma pergunta: quando nossos ancestrais começaram a usar roupas? Surpreendentemente, outros estudos sugerir que o uso sistemático de roupas pode ter começado apenas entre 83.000 mil e 170.000 mil anos atrás.
Isto significa que durante mais de 2,5 milhões de anos, os nossos antepassados podem ter estado simplesmente nus.
A possibilidade de uma Lucy nua obriga-nos a reconsiderar muitas das nossas ideias sobre vida pré-histórica. Como nossos ancestrais se adaptaram a viver sem a proteção das peles? Como essa mudança afetou suas interações sociais e comportamento?
Conclusão: Repensando nosso passado
A possibilidade de uma Lucy sem pêlos lembra-nos mais uma vez que a ciência é um processo contínuo de descoberta e revisão. O que hoje consideramos um facto estabelecido poderá ser questionado amanhã por novas provas.
Devemos permanecer abertos à possibilidade de que os nossos antepassados eram muito diferentes do que imaginávamos que fossem. E neste processo de redescoberta, podemos também aprender algo novo sobre nós mesmos e sobre a nossa relação com o nosso corpo e a nossa natureza.