Nos laboratórios de Northwestern University um dos maiores mistérios da medicina moderna foi finalmente resolvido: como metformina exerce seus efeitos benéficos no metabolismo. A descoberta, publicada em Os avanços da ciência (te linko aqui), promete revolucionar não apenas a terapia do diabetes, mas também o desenvolvimento de novos medicamentos mais eficazes.
Para quem não sabe o que é metformina além dos efeitos
A metformina é um medicamento muito comum utilizado principalmente no tratamento do diabetes tipo 2, aquele que costuma aparecer na idade adulta, principalmente em pessoas com sobrepeso. Simplificando, ajuda o corpo a controlar melhor o açúcar no sangue de três maneiras: reduz a produção de açúcares pelo fígado, melhora a absorção de açúcares pelos músculos e retarda a absorção de açúcares pelo intestino.
É considerado o medicamento de primeira escolha para diabetes tipo 2 (e não só) porque, além de eficaz, tem duas vantagens importantes: não causa ganho de peso e raramente causa quedas perigosas de açúcar no sangue. É tomado na forma de comprimido às refeições e, embora possa causar algum desconforto inicial no estômago, geralmente é bem tolerado pela maioria das pessoas.
A chave para os efeitos da metformina? Está nas mitocôndrias
Uma equipe liderada por pesquisadores do Northwestern University demonstraram que os efeitos da metformina estão principalmente ligados a uma parte específica das mitocôndrias, os “motores” das nossas células. O alvo é o complexo mitocondrial I, que funciona como um motor molecular para fornecer energia às células. A metformina atua como um freio suave nesse sistema, modulando o metabolismo celular.
Para provar esta teoria, os cientistas adotaram uma abordagem inovadora utilizando ratos geneticamente modificados. Eles introduziram uma proteína especial chamada NDI1, originalmente encontrado em leveduras, em células de camundongos. Esta proteína atua como um gerador de reserva que pode continuar a funcionar mesmo na presença de metformina, permitindo aos pesquisadores testar se o bloqueio do complexo mitocondrial I é realmente essencial para os efeitos da metformina.
Resultados surpreendentes
Embora milhões de pessoas já tomem metformina, compreender o seu mecanismo exato tem sido um mistério. Este estudo ajuda a explicar que a metformina reduz o açúcar no sangue ao interferir nas mitocôndrias das células.
Professor Navdeep Chandel, Universidade Northwestern Feinberg School of Medicine.
Ratos tratados com metformina eles mostraram níveis significativamente mais baixos de açúcar no sangue após consumir glicose, como esperado. No entanto, os ratos com o sistema de backup NDI1 foram significativamente menos responsivos aos efeitos hipoglicêmicos da metformina.
Além do diabetes
Esta descoberta é particularmente significativa porque a metformina demonstrou potencial além do tratamento da diabetes. Estudos sugerem que poderia ajudar a reduzir o risco de câncer, diminuir a inflamação e até melhorar a longevidade. Compreender exatamente como funciona a metformina pode ajudar os investigadores a desenvolver tratamentos mais direcionados para estas condições.
Uma explicação unificadora
Colleen Reczek e seus colegas testaram essa teoria tanto em ratos alimentados com comida regular quanto naqueles que receberam uma dieta rica em gordura para imitar as condições que muitas vezes levam ao diabetes tipo 2 em humanos. Em ambos os casos, a presença do NDI1 reduziu significativamente a eficácia da metformina, mas não a eliminou completamente.
O estudo também ajuda a explicar por que os efeitos da metformina podem variar entre as pessoas e por que ela funciona melhor quando tomada por via oral em vez de injetada. Quando tomado na forma de comprimido, o medicamento afeta principalmente os intestinos e o fígado (órgãos-chave no controle do açúcar no sangue) antes de atingir outras partes do corpo. Esta compreensão poderia levar ao desenvolvimento de medicamentos ainda mais eficazes para tratar a diabetes e outras condições metabólicas.
Limitações e perspectivas futuras
Os pesquisadores observaram que os camundongos geneticamente modificados apresentaram níveis variáveis de expressão de NDI1, o que pode ter influenciado os resultados. Além disso, como o NDI1 não consegue replicar perfeitamente todas as funções do complexo mitocondrial natural I, algumas diferenças na resposta podem ser devidas a essas variações funcionais e não aos efeitos da metformina.
Mais pesquisas serão necessárias para confirmar estes resultados, mas o caminho é verdadeiramente convincente e, em qualquer caso… O “mistério” está resolvido.