Uma foto da sua retina, trinta segundos, e o médico já sabe se o seu coração corre o risco de sofrer um ataque cardíaco nos próximos anos, se a sua idade biológica é superior à sua idade cronológica, se essa sensação de "sentir-se velho" tem algum fundamento concreto.
Um grupo de pesquisadores de Universidade McMaster e Instituto de Pesquisa em Saúde Populacional analisaram exames de retina de 74 pessoas. Descobrir que os vasos sanguíneos dos olhos contam histórias que o resto do corpo tenta esconder. Poucas ramificações, geometrias simplificadas: não se trata apenas de visão. É o seu relógio biológico acelerando, visível nessa minúscula rede que inerva a retina. E as descobertas não deixam margem para dúvidas.
A retina como um mapa do corpo
“Ao combinar exames de retina, genética e biomarcadores sanguíneos, descobrimos vias moleculares que explicam como o envelhecimento afeta o sistema vascular”, explica. Maria Pikeyre, professor associado do Departamento de Medicina da McMaster e autor sênior do estudo publicado na revista Science Advances il 24 ottobre 2025.
O olho oferece um acesso único ao sistema circulatório. As alterações nos vasos da retina refletem as que ocorrem em todo o corpo, especialmente nos vasos menores. É um pouco como olhar através de uma janela bem iluminada: você consegue ver o que está acontecendo lá dentro sem precisar entrar.
Os pesquisadores analisaram imagens da retina, perfis genéticos e amostras de sangue de quatro estudos de grande escala: o Estudo Longitudinal Canadense sobre Envelhecimento, o Estudo de Genética da Diabetes e Pesquisa em Tayside, a UK Biobank e o estudo Epidemiologia prospectiva urbana e rural do PHRI. O resultado? Aqueles com vasos retinianos menos ramificados e mais simples têm maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares. Além disso, essas mesmas pessoas apresentam sinais de envelhecimento acelerado, incluindo aumento da inflamação e redução da expectativa de vida.
Idade biológica e risco cardiovascular: quando os vasos sanguíneos falam por si.
Atualmente, a avaliação de doenças relacionadas à idade, como doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e demência, exige baterias de testes complexas. Os pesquisadores esperam que a imagem da retina possa simplificar esse processo., oferecendo uma medida rápida e acessível tanto da idade biológica quanto do risco cardiovascular. É claro que, atualmente, os exames de imagem representam apenas parte de um quadro clínico mais amplo, mas o potencial é considerável.
Uma análise mais aprofundada de biomarcadores sanguíneos e dados genéticos revelou mecanismos biológicos que podem estar impulsionando essas mudanças.
Diversas proteínas-chave ligadas à inflamação e ao envelhecimento vascular foram identificadas, sugerindo novas vias para o desenvolvimento de medicamentos. Entre as moléculas mais interessantes estão: MPM12 e Receptor IgG-Fc IIb, ambas associadas a danos nos vasos sanguíneos relacionados à idade.
“Nossos resultados apontam para potenciais alvos terapêuticos para retardar o envelhecimento vascular, reduzir a carga de doenças cardiovasculares e, em última análise, melhorar a expectativa de vida”, afirma Pigeyre.
Provas antigas, respostas novas
A beleza dessa abordagem reside em sua simplicidade. Como já lhe dissemosExames de retina não são novidade. Já são usados para diagnosticar problemas oculares, mas seu potencial vai muito além da oftalmologia. Estudos anteriores mostraram que a inteligência artificial pode analisar imagens da retina para prever riscos de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral em cinco anos. Agora sabemos que essas imagens também revelam a rapidez com que nossa idade biológica está aumentando.
O financiamento do projeto veio de Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde, De 'Prêmio EJ Moran Campbell de Pesquisa de Carreira Interna da Universidade McMaster e dePrêmio de Pesquisa para Jovens Pesquisadores Hamilton Health Sciences. As análises de imagens da retina realizadas por meio do CLSA receberam apoio adicional de uma Bolsa de Novo Investigador do HHS.
Idade biológica e outras pistas: a oculomica busca indícios sobre o corpo.
Esta pesquisa faz parte de uma tendência cada vez mais robusta: aoculomicsA retina é a disciplina que combina imagens de alta resolução do olho com inteligência artificial para prever doenças que aparentemente não têm relação com a visão. Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2, até mesmo alguns tumores: todos deixam uma marca na retina. E nossa verdadeira idade biológica, aquela que importa mais do que os anos em nosso documento de identidade, é revelada na complexidade dos vasos sanguíneos que a nutrem.
O próximo passo? Incorporar esses exames à prática clínica de rotina. Não para substituir os testes tradicionais, mas para complementá-los com uma ferramenta mais rápida, menos invasiva e potencialmente mais acessível.
Afinal, nossos olhos sempre revelaram muito sobre nós. Agora, eles também começaram a revelar quanto tempo nos resta.