Este não é um dispositivo vestível que exija carregamento, mas uma tatuagem intradérmica inteligente real e normal. Assim como os que veremos aos milhões nas praias ao redor do mundo.
Uma equipe de pesquisa alemã desenvolveu um método para obter uma tatuagem inteligente sem o uso de eletrônicos. Uma tatuagem que pode mudar de cor como resposta a alterações nos níveis de glicose, albumina ou PH do corpo.
Análise e monitoramento em tempo real
O projeto está sendo testado em animais (porcos, para ser mais preciso). Na sua pele, esses desenhos especiais mostravam as variações desses biomarcadores com gradações legíveis.
Após a minidiálise, este é mais um passo emocionante na direção de tatuagens reais que, sem qualquer consumo de energia, permitem que pacientes e médicos monitorem rapidamente doenças crônicas como diabetes ou aquelas que afetam os rins.
Pesquisa
A equipe liderada pelo engenheiro químico Ali Yetisen da Universidade Técnica de Munique foi capaz de criar uma tecnologia verdadeiramente transformadora. Um método moderno baseado numa prática de decoração que o homem pratica desde os primórdios dos tempos.
“Mudar a aparência do corpo injetando pigmentos na camada dérmica é uma prática que tem mais de 4000 anos”, escreve o pesquisador em seu artigo. “Desenvolvemos tecnologia cosmética para combinar tatuagens artísticas e biossensores colorimétricos. O resultado é que a tatuagem inteligente funciona como uma exibição de diagnóstico, mudando de cor em resposta a mudanças no corpo”.
A escolha recaiu sobre esses três biomarcadores (glicose, albumina, ph), porque frequentemente sua variação indica que algo está rapidamente dando errado em nosso corpo.
Albumina é uma proteína no plasma cujo nível é baixo quando há problemas renais ou hepáticos e é alto quando há problemas cardíacos. o glicose precisa ser monitorado continuamente por pacientes com diabetes, porque eles têm problemas com a capacidade do organismo de metabolizar açúcares. As variações de PHpor outro lado (acidose quando baixa, alcalose quando alta) são um indicador geral. Eles indicam uma ampla gama de problemas que precisam de mais análises.
A equipe criou vários corantes que podem detectar essas alterações no fluido intersticial, que também transporta oxigênio e glicose entre as células e é encontrado em quase todo o nosso corpo. O sensor de albumina é amarelo e fica verde à medida que os níveis aumentam. O sensor de glicose utiliza as reações enzimáticas da oxidase e da peroxidase: a mudança em seus valores determina a transição do amarelo para o verde escuro. Para o PH existe uma faixa que vai do amarelo ao azul quando os níveis estão na faixa entre 5 e 9 (o humano ‘normal’ fica em torno de 7,4).
Lendo este estudo aprendi uma coisa nova para mim: a pele de porco não foi usada apenas pela equipe alemã para os testes, mas também é o “livro de exercícios” para tatuadores.
Os próximos passos
Serão necessários testes em humanos para confirmar e melhorar as características e o desempenho. Apenas para dizer que atualmente duas dessas três tonalidades não são reversíveis. Ou seja, em dois em cada três casos, uma vez alterada a cor ela não volta, apenas a do PH já está aperfeiçoada. Nos próximos testes, serão adicionados receptores sintéticos às duas tonalidades ainda a serem aperfeiçoadas. No futuro imediato, contudo, os testes continuarão em animais vivos para avaliar quaisquer reações adversas.
Quando os testes em humanos forem realizados, que levará plausivelmente pelo menos mais dois anos, essa tatuagem inteligente monitorará muito mais. Coisa? Por exemplo, também os níveis de eletrólitos, proteínas, microorganismos patogênicos, gás e hidratação.
Até o dia em que olhamos para o antebraço e sabemos que estamos resfriados. Ou que estamos a entrar numa reserva de açúcar, ou que talvez precisemos de beber mais.
A pesquisa foi publicada na edição internacional da revista Angewandte Chemie