Ontem, 10 de agosto de 2023, um foguete Soyuzb transportando Luna 25 foi lançado do Cosmódromo Vostochny, no leste da Rússia, marcando a primeira missão lunar da Rússia em 47 anos. Uma missão que visa chegar ao pólo sul da Lua, região ainda pouco explorada.
Especialistas e entusiastas espaciais de todo o mundo acompanham este evento com grande interesse, pois poderá não só revelar novas informações sobre a Lua, mas também redefinir a nossa compreensão da exploração espacial e dos recursos que o nosso satélite natural pode oferecer.
Gelo, gelo em todos os lugares
O destino da Luna 25 não foi escolhido ao acaso. O Pólo Sul da Lua tornou-se um ponto focal para muitas agências espaciais. simeão barbeiro, um eminente cientista planetário da Universidade Aberta de Milton Keynes, no Reino Unido, destaca a importância desta região: “É uma área onde podemos esperar ver fortes concentrações de gelo”, diz ele. E você tem que acreditar nele.
Durante décadas, os dados orbitais sugeriram que os pólos lunares continham quantidades significativas de água gelada. Nico Dettman, líder do Grupo de Exploração Lunar da ESA, a Agência Espacial Europeia, sublinha a importância deste recurso: “É possível gerar hidrogénio e oxigénio com ele, que podem ser usados para produzir água potável, ar respirável ou mesmo combustível para foguetes”.
A missão russa
Um dos principais instrumentos da Luna 25 é um braço robótico que tentará escavar até 50 centímetros no fundo da cratera Boguslawsky. O alvo? Procure gelo, é claro. Esta pesquisa poderia não apenas revelar recursos valiosos, mas também fornecer insights sobre a história da água no sistema solar.
Se Luna 25 pousar com sucesso, marcará um momento histórico. Afinal, desde 1976, apenas a China conseguiu pousar na lua. Margaret Landis, cientista planetário da Universidade do Colorado, em Boulder, expressa um sentimento partilhado por muitos: “Seria bom ver alguém fazer a aterragem”.
Não apenas Luna 25: há uma multidão.
Luna 25 não é a única missão dirigida ao pólo sul. A Índia, com a sua Chandrayaan-3, vai tentar uma aterragem no dia 23 de agosto, e já enviou entretanto imagens extraordinárias da superfície lunar. China planeja enviar um rover em 2026, e também o programa Artemis da NASA (no momento, estamos escolhendo de trajes espaciais), que visa devolver os humanos à Lua, concentra-se no Pólo Sul.
Porquê esta “nova raça”? Pelas mesmas razões, é claro. Oportunidades, mas também razões geopolíticas.
Com o lançamento do Luna 25, por exemplo, a Rússia marca vários “novos começos”. Em primeiro lugar, um afastamento da sua dependência do Cazaquistão, que acolheu o seu principal local de lançamento, o Cosmódromo de Baikonur. Esta missão representa não apenas um regresso à Lua, mas também um passo em frente na recuperação (forçada, por razões óbvias) da “soberania espacial” russa.
Luna 25, uma questão geopolítica
Em resumo: Luna 25 representa um passo ousado para a Rússia, mas a missão acima de tudo tem uma dimensão política. Scott Pace, ex-secretário executivo do Conselho Espacial Nacional dos EUA, acredita que a missão é mais uma declaração das ambições da Rússia no espaço, em resposta às atividades de outras nações.
Rogério Launio, ex-historiador-chefe da NASA, vê a Luna 25 como “uma oportunidade para assumir a liderança e obter publicidade positiva”.
O conflito na Ucrânia teve repercussões não só na Terra, mas também no espaço. Sobre a colaboração entre a Rússia e a Europa, por exemplo. Teria visto cientistas europeus trabalharem em estreita colaboração com a Roscosmos nas missões Luna 25 e Luna 27, mas foi encerrado abruptamente.
simeão barbeiro, que teria feito parte da equipe europeia, viu desaparecer a oportunidade de unir forças para explorar o pólo sul lunar. Outro exemplo de como as tensões terrestres podem afectar a cooperação espacial, um campo que normalmente (pelo menos desde a década de 70) transcendeu as divisões geopolíticas.
Um futuro de cooperação ou isolamento?
A questão agora é: continuará a Rússia a procurar parceiros internacionais para as suas missões espaciais ou irá recuar para uma abordagem mais isolacionista? Neste momento, prevalece a “mudança de estrutura”: os russos eles já estão cooperando com a China para construir uma estação de pesquisa lunar.
No entanto, a exploração espacial sempre teve o poder de unir as nações. Espero que a comunidade internacional consiga encontrar um terreno comum no espaço, mesmo quando as divisões na Terra parecem intransponíveis.