Uma equipe internacional de neurologistas lançou luz sobre um aspecto até então desconhecido do cérebro humano, descobrindo uma forma completamente única de comunicação celular. Ao analisar o tecido cerebral de pacientes epilépticos, os pesquisadores observaram pela primeira vez um sinal elétrico mediado por íons de cálcio, além dos habituais íons de sódio.
Esta descoberta abre novos caminhos para a compreensão do misterioso funcionamento do nosso cérebro e também sugere que possuímos capacidades computacionais que vão muito além das atualmente conhecidas. O que isso significa? Vamos ficar melhores juntos.
Um novo sinal no cérebro humano
O cérebro, com a sua complexidade e funcionamento intrincado, continua a ser uma das fronteiras mais fascinantes da ciência moderna. A recente descoberta de um sinal cerebral anteriormente não identificado acrescenta outra peça ao quebra-cabeça de como nosso cérebro processa informações.
Os cientistas identificaram uma forma única de comunicação celular que poderia reavaliar a nossa compreensão das capacidades computacionais do cérebro humano. No centro desta descoberta estão os dendrites, partes da célula nervosa que desempenham um papel crucial na transmissão de sinais. Tradicionalmente, pensava-se que os neurônios transmitiam sinais principalmente através do uso de íons sódio. Este novo estudo revela que os dendritos usam uma combinação de íons sódio e cálcio para gerar ondas nunca antes observadas: os pesquisadores os chamaram potenciais de ação dendríticos mediados por cálcio (dCaAPs).
O que isso significa?
Imagine o cérebro como uma rede incrivelmente complexa de estradas onde os sinais viajam como carros. As células nervosas, ou neurônios, são como cidades conectadas por essas ruas. Os dendritos, por outro lado, são como “portões da cidade”, por onde os carros (sinais) entram ou saem.
Até recentemente, pensávamos que esses “carros” funcionavam principalmente com algum tipo de combustível especial, os íons de sódio. Mas a nova descoberta diz-nos que, em algumas partes do cérebro, os “carros” também podem utilizar outro tipo de combustível, os iões de cálcio, para se moverem. Isto é importante porque indica que as células nervosas têm uma forma muito mais sofisticada de enviar e receber sinais. Um “combustível” que torna as viagens mais eficientes em determinadas condições.
Esta nova forma de comunicação pode significar que o cérebro é ainda mais poderoso do que imaginávamos.
Implicações para pesquisa e tecnologia
Já existem vários projetos estudando nosso sistema nervoso para desenvolver hardware de computador mais avançado. Compreender que as nossas células nervosas têm capacidades adicionais poderia levar a novas formas de criar chips inspirados no cérebro humano.
A investigação futura terá de estabelecer como os dCaAP se comportam em neurónios inteiros e em sistemas vivos, bem como investigar se mecanismos semelhantes também evoluíram noutros organismos do reino animal. O desafio futuro será compreender como esta nova “instrumentação lógica” contida numa única célula nervosa se traduz em funções superiores do nosso cérebro.
A pesquisa foi publicada na revista Ciência, Eu ligo aqui.