A inteligência artificial está revolucionando vários setores e o campo militar não é exceção. A crescente capacidade das máquinas para tomarem decisões autónomas sem a necessidade de seres humanos levanta questões cruciais sobre a natureza da guerra no futuro próximo.
Paulo Scharrevice-presidente de Centro para uma nova segurança americana e especialista na área de IA aplicada à defesa, destaca os potenciais desafios e oportunidades desta evolução. No contexto desta discussão, o recente filme “O Criador”, apesar de ser um produto de entretenimento, representa uma reflexão cultural sobre as mesmas questões. Vamos pensar sobre isso juntos.
No filme "O Criador", ambientado durante uma futura guerra entre humanos e inteligência artificial, o ex-agente das forças especiais Joshua, angustiado com o desaparecimento de sua esposa, é recrutado para encontrar e matar o "Criador", o arquiteto do Advanced IA. Na realidade esta tarefa poderia ser muito mais complicada.
O primeiro duelo (perdido pelos humanos)? Nos céus
Existem vários exemplos recentes que destacam o potencial da IA no setor militar. De um (o dos drones militares já autônomos também nas suas escolhas) nós conversamos aqui. Você certamente já ouviu falar do outro. Estou me referindo aoDesafio AlphaDogfight da DARPA, que viu um piloto humano enfrente uma IA em um simulador de avião. O resultado? A IA dominou o piloto por uma pontuação de 15 a zero, exibindo capacidades quase sobre-humanas, como tiros precisos de frações de segundo que os pilotos humanos nunca conseguiriam realizar.
Em um duelo real, uma IA pode já estar em vantagem. Mas o que tudo isto significa para o futuro da guerra?


IA no campo de batalha
A ideia de máquinas tomando decisões de vida ou morte levanta questões éticas complexas. Embora tais máquinas apontem para uma precisão muito maior e “quase” infalível, qualquer acção fora da pista constituiria um crime de guerra: mas quem seria directamente responsável? Segundo Scharre, estabelecer responsabilidade e controle direto sobre uma IA pode não ser tão simples.
Num futuro próximo, contudo, é provável que a IA seja utilizada por humanos principalmente para tácticas e análises. A IA pode processar informações de forma mais eficiente, tornando as forças armadas mais eficazes. Mas isto também poderá levar a uma dependência crescente da IA para a tomada de decisões, uma vez que a vantagem competitiva num ambiente militar pode ser demasiado tentadora para ser ignorada.
Para Scharre, em resumo, os humanos estão a construir sistemas que não compreendem totalmente e que podem não ser capazes de controlar, encontrando-nos perante ameaças sem precedentes.
A corrida armamentista da IA agora parece inevitável
Os especialistas há muito que dissiparam as suas reservas sobre o assunto: veremos uma espécie de corrida armamentista pela inteligência artificial, semelhante à das armas nucleares.
Alguns estudiosos chineses eles levantaram a hipótese de uma "singularidade no campo de batalha": um ponto em que a velocidade das decisões baseadas na IA ultrapassa a capacidade de compreensão dos humanos. Num tal cenário, poderemos ter de “entregar as chaves” dos sistemas autónomos.
Sobre o resultado de uma hipotética guerra entre humanos e uma inteligência artificial que está fora do nosso controlo, Scharre não está optimista. E ele deixa isso claro com uma comparação provocativa e flagrante: será que algum dia poderemos perder uma hipotética guerra contra os macacos? Tire suas próprias conclusões.