Talvez ainda não tenhamos alcançado inteligência geral artificial (AGI), mas de acordo com um importante especialista na área teórica, isso pode acontecer mais cedo do que pensamos. De acordo com o cientista da computação e especialista Ben Goertzel, embora seja improvável que a IA de nível humano ou sobre-humano seja construída antes de 2029 ou 2030, existe a possibilidade de que isso possa acontecer já em 2027.
Uma perspectiva tão fascinante quanto perturbadora, que levanta questões profundas sobre o futuro da humanidade face à ascensão das máquinas inteligentes.
A incerteza da inteligência artificial geral
Goertzel, fundador da SingularityNET, está bem ciente das incógnitas que cercam o desenvolvimento da AGI. “Ninguém criou inteligência artificial geral em nível humano ainda; ninguém tem uma compreensão sólida de quando chegaremos lá”, disse ele ao público na conferência mais recente em que participou, no Panamá.
No entanto, apesar dessas incertezas, Goertzel considera a AGI de nível humano plausível pode ser alcançado até 2027e, em qualquer caso, o mais tardar em 2032. Uma previsão que, se se concretizasse, teria implicações profundas para o nosso futuro.
Da AGI à superinteligência
O verdadeiro desafio, segundo Goertzel, começa quando a AGI é alcançada. “Minha opinião é que, uma vez que você chegue à AGI de nível humano, poderá obter uma AGI radicalmente sobre-humana em alguns anos, a menos que a AGI ameace retardar o seu desenvolvimento por causa de seu próprio conservadorismo”, acrescentou.
A ideia é que uma IA capaz de introspecção na sua própria “mente” poderia fazer engenharia e ciência a um nível humano ou sobre-humano, criando inteligências cada vez mais avançadas num processo de auto-aperfeiçoamento recursivo.
É o conceito de “explosão de inteligência”, muitas vezes associado à singularidade tecnológica.
Previsões de especialistas
Goertzel não é o único e não é o primeiro a prever o advento da inteligência artificial geral em suas previsões. Previsões que, aliás, estão gradualmente a convergir. Geoffrey Hinton, conhecido como o “padrinho da IA” e ex-funcionário do Google, disse em maio do ano passado que esperava, “sem muita certeza”, que a AGI estivesse em algum lugar entre 5 e 20 anos a partir de agora. Sua previsão anterior era de 30 a 50 anos.
Shane Legg, cofundador do Google DeepMind, reiterou sua previsão de mais de uma década atrás de que há 50% de chance de que os humanos inventem a AGI até 2028. Paulo Pallaghypor fim, chega a considerar certa a inteligência artificial geral para 2028, com a possibilidade de que seja alcançada mesmo em 2026.
Previsões que, ainda que com a devida cautela, indicam um consenso crescente entre os especialistas sobre a proximidade deste objetivo.
Avanços nos modelos de linguagem
Até alguns anos atrás, a AGI descrita por Goertzel e seus colegas parecia uma quimera. Mas com os avanços em grandes modelos de linguagem (LLMs) feitos pela OpenAI desde o lançamento do ChatGPT no final do 2022, essa possibilidade parece cada vez mais próxima. Goertzel é rápido em apontar que os LLMs por si só não levarão à AGI, mas é inegável que representam um passo significativo nessa direção. A capacidade destes sistemas de compreender e gerar linguagem natural de uma forma cada vez mais sofisticada é um pré-requisito fundamental para o surgimento da inteligência de nível humano.
Os limites e riscos da IA
É claro que há muitas reservas sobre o que Goertzel está pregando. Mesmo uma IA sobre-humana, pelos padrões humanos, não teria uma “mente” como a nossa. Por outro lado, existem os medos existenciais ligados ao surgimento de uma inteligência radicalmente superior à nossa, capaz de nos superar em todos os domínios.
Como podemos garantir que tal entidade tenha um Senso moral alinhados aos valores humanos e agindo para o nosso bem?
AGI, rumo a um futuro incerto
Apesar destas reservas, a teoria de Goertzel é fascinante e não pode ser totalmente desacreditada, especialmente à luz dos rápidos avanços na IA nos últimos anos. Quer a AGI chegue em 2027, 2030 ou mais além, parece cada vez mais provável que a humanidade, mais cedo ou mais tarde, se veja confrontada com inteligência artificial de nível humano ou superior.
Perante esta perspetiva, é essencial que pensemos profundamente sobre as implicações da AGI e da superinteligência. Quais são os benefícios e riscos potenciais? Como podemos direcionar o desenvolvimento destas tecnologias para resultados positivos para a humanidade? E como irá a nossa própria concepção do que significa ser humano mudar num mundo onde já não somos o auge da inteligência?
Não há respostas fáceis para estas questões, mas é imperativo que comecemos a questioná-las e a procurar soluções. O advento da AGI e da superinteligência pode ser o maior teste que a humanidade já enfrentou. Esperemos que todos possamos superá-lo juntos, como sociedade.