Num mundo onde a sustentabilidade e o respeito pela natureza devem estar no centro das nossas ações, novas pesquisas lançam uma luz desconcertante sobre o desperdício alimentar global. De acordo com o estudo realizado porUniversidade de Leida, nos Países Baixos, cerca de 18 mil milhões de animais, criados e mortos todos os anos para nosso consumo, acabam por não ser utilizados.
Estes dados não só destacam a gravidade do desperdício alimentar, mas também levantam questões éticas e ambientais de importância crítica.
O impacto do desperdício de alimentos em humanos e animais
O desperdício alimentar é um problema que afeta toda a cadeia de valor. Todos. Da produção à distribuição, até ao consumo final. As implicações deste fenómeno são enormes: desde o desperdício de recursos preciosos até à contribuição para a poluição e as alterações climáticas.
Mas a dimensão mais chocante deste desperdício é a perda gigantesca e inimaginável de vida animal, muitas vezes esquecida nas discussões sobre eficiência alimentar.
O preço oculto do nosso comportamento
O estudo holandês (eu linko aqui) proporciona-nos uma nova perspetiva sobre as consequências do desperdício alimentar. Já sabemos que globalmente um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado, a componente animal destes resíduos assume uma gravidade particular. Estima-se que os produtos de origem animal constituam apenas 12% dos alimentos desperdiçados, mas a sua perda tem implicações éticas e ambientais muito mais significativas do que a dos alimentos vegetais.
Os investigadores sugerem que a redução do desperdício de carne ao longo de toda a cadeia alimentar poderia prevenir o ciclo de “vida” e o sofrimento dos até 7,9 bilhões de vidas animais. Todo ano. E isto sem afetar o nível de consumo humano de carne.
Bilhões de animais mortos e jogados fora: uma questão de ética e meio ambiente
A perda de vidas animais não é apenas um problema ético; também tem profundas implicações ambientais. “As vidas de animais perdidas ou desperdiçadas são enormes, mas não surpreendem”, diz ele Laura Scherer, Professor de Ciências Ambientais e autor do estudo.
Em última análise, esta situação é “apenas” o resultado direto de um sistema alimentar que utiliza aproximadamente 75 bilhões de animais por ano para a produção de 6 tipos de carne.
A galinha é a mártir do mundo. O animal mais difamado, morto e desperdiçado, com aproximadamente 16,8 bilhões de espécimes jogados fora todos os anos. A maior parte dos aprox. 70 bilhões das galinhas mortas para alimentação passa sua curta vida em cultivo intensivo, uma realidade que acrescenta outra camada de tragédia a esta estatística.
O que podemos mudar?
Este estudo destaca a necessidade de maior conscientização e ação coletiva para reduzir o desperdício de alimentos. É imperativo que as políticas públicas, as práticas empresariais e o comportamento do consumidor evoluam para enfrentar este desafio. Só assim poderemos esperar construir um sistema alimentar mais sustentável, que respeite tanto o ambiente como a vida animal.
Reduzir o desperdício alimentar e salvar milhares de milhões de vidas animais são objetivos alcançáveis. Se o mundo inteiro adoptasse as melhores práticas actualmente observadas na cadeia de abastecimento global, poderíamos dar um enorme passo em direcção a um futuro mais sustentável e compassivo.
É uma questão de respeito pela vida, de sustentabilidade ambiental e de eficiência de recursos. Cada pequena ação que podemos tomar para reduzir o desperdício de alimentos é importante. É hora de reconhecer o valor de cada vida e agir para preservar o nosso planeta. Não podemos continuar a ignorar o impacto dos nossos hábitos cobardes e apáticos no mundo que nos rodeia.