Há algo especial no ar. Algo que pode nos ajudar a tratar doenças pulmonares como enfisema, fibrose pulmonar e até COVID-19 não só com medicamentos, mas com a regeneração das próprias células pulmonares. O trabalho de um grupo de pesquisadores da Centro de Medicina Regenerativa (CReM), uma joint venture entre a Universidade de Boston e o Boston Medical Center, pode fazer a diferença.
A jornada da descoberta
A equipe de pesquisadores do CReM está há muito tempo em uma longa jornada. Uma viagem científica, claro: com o objectivo de enxertar células em tecido pulmonar danificado para regenerar as vias respiratórias ou alvéolos do pulmão.
Mas como fazer com que essas células “criem raízes” para que durem muito e sejam funcionais? A resposta pode estar nas células-tronco pulmonares.
A arte da engenharia de células pulmonares
A equipe se concentrou em desenvolver maneiras de projetar cada um dos células estaminais do pulmão em laboratório usando células-tronco pluripotentes. Uma vez aperfeiçoado esse processo, eles desenvolveram métodos para transplantar essas células em modelos experimentais de camundongos com pulmões lesionados.
Em seu estudo intitulado “Reconstituição de células-tronco das vias aéreas por transplante de células basais derivadas de células-tronco primárias ou pluripotentes” (eu linko aqui), os pesquisadores do CReM exploraram as vias aéreas dos pulmões. Essas vias aéreas são revestidas por um epitélio que possui células-tronco bem definidas chamadas “células basais”. Células responsáveis pela manutenção dessas vias aéreas ao longo da vida.
O futuro da medicina regenerativa
Darrell Kotton, autor correspondente do estudo e diretor do CReM, explicou com entusiasmo. “Ao diferenciar células-tronco pluripotentes em células basais das vias aéreas em laboratório, conseguimos usar essas células para reconstituir vias aéreas lesionadas.”
Não é tudo. Em seu segundo estudo (que eu link para você aqui), os pesquisadores do CReM tiveram como alvo os alvéolos pulmonares. A equipe desenvolveu métodos para enxertar células modificadas nos alvéolos, a região do pulmão responsável pelas trocas gasosas.
Um sonho que se torna realidade
Martin Ma, primeiro autor do primeiro estudo, está entusiasmado: “Esperamos que este trabalho abra caminho para novas abordagens terapêuticas nas quais células-tronco pluripotentes induzidas possam ser criadas a partir de qualquer paciente com doença pulmonar, diferenciadas em células-tronco pulmonares em laboratório e utilizadas para o transplante.”
E para quem sofre de doenças pulmonares genéticas? A solução pode estar próxima. Michael Herriges, PhD, primeiro autor do segundo estudo, acrescentou: “É possível modificar geneticamente células em laboratório antes do transplante. Isso significa que as células recém-enxertadas terão sua mutação genética corrigida e deverão estar livres da doença”.
Regenerando o pulmão, um suspiro de esperança
Segundo Kotton, esses estudos representam o culminar de 20 anos de pesquisas. É claro que o tratamento de doenças pulmonares como enfisema, fibrose pulmonar e COVID-19 exigirá muito mais investigação, mas temos esperança. Talvez, num futuro não muito distante, possamos ver crianças e adultos com formas familiares de doenças pulmonares tratados com este tipo de abordagem.